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Matilde Teixeira: A Rainha Portuguesa dos Kills na NCAA

Atualizado: 26 de jun.

Entrevista exclusiva com a primeira portuguesa a ultrapassar os 1000 kills no voleibol universitário norte-americano.


Matilde Teixeira fez história no voleibol universitário dos Estados Unidos. A jogadora, natural da Maia, não só representou com distinção a University of North Carolina Asheville, como se tornou a primeira portuguesa a ultrapassar os 1000 kills na NCAA. Mas o seu percurso, como tantos outros, não foi só feito de conquistas: a dois jogos da final, uma lesão grave no joelho mudou tudo. A sua história é uma lição de resiliência, força e paixão pelo desporto.


Matilde Teixeira
Matilde Teixeira

Matilde, lembras-te do momento em que soubeste que ias mesmo para os EUA jogar voleibol?

Sim, lembro-me como se fosse ontem. Estava no meu quarto, recebi uma mensagem do Rúben da Next Level e... fiquei em choque. Já conhecia o projeto e, de repente, percebi que tudo aquilo por que tinha trabalhado estava mesmo a acontecer. Foi um momento mágico.


Porquê a University of North Carolina Asheville?

Foi uma escolha muito instintiva. Tive uma boa conversa com a treinadora, senti-me bem-vinda desde o primeiro momento. O campus é lindo, a cidade tem uma energia especial, e senti que era o lugar certo para crescer como jogadora e como pessoa.


O que é que não podias mesmo deixar de levar na mala?

Levei um livro com mensagens da minha família e amigos. Esse livro ajudou-me muito nos primeiros tempos.


Como foram os primeiros dias por lá?

Intensos. Tudo era novo: a língua, a comida, os horários, os treinos. Estava longe de casa pela primeira vez, e houve momentos difíceis. Mas a equipa acolheu-me bem e, com o tempo, fui encontrando o meu lugar.



Qual foi a maior diferença entre o voleibol em Portugal e o da NCAA?

A intensidade. Nos EUA, o desporto universitário é quase profissional. Existe um foco enorme na performance, estatísticas, e preparação física. Em Portugal jogava com paixão; lá, aprendi a jogar com método.


Como é viver o desporto universitário nos EUA?

É intenso. Vives e respiras voleibol. Os jogos têm transmissão online, as bancadas enchem, dão entrevistas... mas é uma experiência inacreditável. Dá-te estrutura, apoio e um grande sentido de propósito.


Quando percebeste que podias chegar aos 1000 kills?

No início nem sabia que era possível. Mas no terceiro ano, comecei a ver os números a subir e percebi que podia ser real. Não foi uma obsessão, mas tornou-se uma meta pessoal. Queria deixar a minha marca.


Como foi o momento em que atingiste esse marco?

Foi num jogo fora, por isso nem me apercebi logo. Estava tão focada que só no balneário, quando a treinadora e as colegas me disseram, é que percebi. Foi discreto, mas muito especial. Senti-me reconhecida e feliz.


E o jogo que mais te marcou?

Foi contra a Charlotte. Estava a jogar mal, nada me saía bem. Em vez de desistir, tentei ajudar a equipa de outras formas: falar, incentivar, defender. No fim, ganhámos. Foi uma vitória que nos uniu e me ensinou que, mesmo nos dias maus, podes fazer a diferença.


A dois jogos da final, sofres uma rotura completa do cruzado anterior do joelho. O que te passou pela cabeça naquele momento?

Quando caí, senti de imediato que algo estava muito errado. Foi uma dor que não foi só física, era como se me tivessem tirado o chão. Estávamos tão perto de um momento tão importante, e de repente tudo parou. A primeira coisa que me veio à cabeça foi: ‘E agora?’. Chorei muito.


Como foi a recuperação?

Demorada e dolorosa, mas também muito revelador. Aprendi muito sobre mim. Tive dias em que não queria sair da cama. Mas também foi um processo de auto-descoberta. Tive uma equipa incrível ao meu lado.


A universidade teve um papel importante?

Sem dúvida. A fisioterapeuta acompanhou-me em tudo, os colegas apoiaram-me, levavam-me comida, ficavam comigo. Nunca me senti sozinha.


E a parte académica?

Gostei muito da flexibilidade do sistema. Os professores, ao contrário do que esperava, são muito acessíveis e disponíveis para ajudar, principalmente quando percebem que és atleta e estás a gerir treinos, viagens e aulas ao mesmo tempo. Há uma grande abertura para ajustar prazos ou encontrar soluções quando os horários colidem desde que mostres responsabilidade. Isso fez toda a diferença para mim.


Fizeste amizades para a vida?

Sim, sem dúvida! Algumas das minhas colegas são agora como irmãs. Vivemos tudo juntas.



O que é que sonhavas comer quando vinhas a Portugal?

Bacalhau à brás, francesinha e pastéis de nata! A comida americana tem muita variedade, mas nada bate os sabores de casa!


Que conselho darias a outras jogadoras que sonham ir para os EUA?

Acreditem. Pode parecer grande ou distante, mas é possível. Prepara-te com calma, treina com dedicação, cuida dos estudos e começa a sentir-te confortável com o inglês, aos poucos. Fala com outras jogadoras que já fizeram esse caminho, porque há sempre alguém disposto a ajudar. Vai haver momentos difíceis, claro, mas cada desafio traz-te mais força. E quando estiveres lá, vais perceber que todo o esforço valeu a pena.


Se pudesses falar com a Matilde de 17 anos, o que lhe dirias?

“Vai, mesmo com medo. Vais cair, vais duvidar, mas vais crescer como nunca imaginaste. E vais conseguir mais do que alguma vez sonhaste.”


E agora, o que vem a seguir?

Quero fazer o meu mestrado e voltar a jogar em Portugal. O sonho continua.



A Matilde é um exemplo de como o talento, aliado à determinação, pode levar uma atleta portuguesa a fazer história nos EUA. Se tens o sonho de estudar e competir lá fora, talvez este seja o teu ponto de partida.

Fala connosco! Estamos aqui para te ajudar a escrever a tua própria história! 

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