O português Henrique Cardoso chegou, viu e venceu. Na Universidade de Montreat, Henrique, único português na história da instituição,
adaptou-se lindamente à sua nova vida e foi o escolhido para “Caloiro do Ano”, uma distinção muito prestigiada nos Estados Unidos.
Excelente estudante e jogador, Henrique esteve em Portugal para umas merecidas férias, mas ansioso para voltar para mais um ano de estudo
e futebol.
A grande época desportiva que Henrique protagonizou valeu-lhe um grande aumento da bolsa desportiva.
Ao fim de um ano que balanço fazes desta aventura pelos Estados Unidos?
O balanço é muito positivo, foi um ano muito bom. Não me arrependo nada, só de não ter ido mais cedo! Foi uma coisa que eu não estava nada
à espera de como ia ser. Fui sozinho para lá, não levei nenhum português comigo. E foi incrível.
Eras o único português?
O único português da escola e o primeiro. E o único a falar português pois também não havia nenhum brasileiro.
Como é ser o único português de uma universidade norte-americana e também da equipa de futebol?
Eu não achei a adaptação muito difícil, é uma universidade pequena, é uma comunidade unida pelo que foi uma adaptação mais fácil e
ser o único falante português ajudou-me a melhorar o inglês.
Como foi ao início?
Eu fui para lá cinco dias antes da pré-época começar então tive de ficar hospedado em Charllote durante três dias.
Fiquei com uma comunidade cristã, que me acolheu lindamente. Depois o meu treinador foi-me buscar e levou-me para o Campus,
onde comecei a pré-época.
Ao que sabemos tiveste uma época brilhante…
Sim, correu bem. A equipa era boa, a época individualmente correu-me lindamente, fui nomeado para Rookie of the Year (caloiro do ano)
e agora é ver se, para o ano, me transfiro para algum lado mais alto.
Como funcionam as transferências de universidade?
Para mudar de universidade, o primeiro passo é falar com o treinador, ser completamente honesto e aberto com ele, explicar-lhe
os motivos e esperar que eles ajudem. Quando eu comecei a falar nisso já era um bocado tarde. Eles aconselham a quem quer mudar,
a tratar logo no fim do primeiro semestre.
E como reagiu o teu treinador?
Ao início estava um bocado renitente, não gostou da ideia. Depois aceitou os meus motivos e agora está disposto a ajudar-me.
Quais são os teus motivos para mudar?
Os meus motivos são desportivos acima de tudo.
Qual é o teu objectivo a nível desportivo?
É jogar profissionalmente e por isso estava a tentar ir para uma liga com mais visibilidade.
A tua bolsa desportiva mudou relativamente ao ano passado?
Agora é maior. O ano passado tive uma bolsa meramente desportiva, este ano, devido aos resultados académicos, eles foram capazes de
melhorar a bolsa para desportiva e académica e agora não estou a pagar quase nada. Acho que todos os portugueses devem aproveitar isto
pois cá o ensino é realmente muito mais difícil.
Como é viver no Campus?
Viver no campus é a melhor experiência que já tive. Na faculdade, em Portugal, eu ia todos os dias de comboio, voltava de comboio.
Quando chegava já estava a pensar em quando é me vinha embora. Lá nós vivemos na faculdade. Nós vivemos a faculdade. É perfeito.
É um ambiente em que acordamos e sabemos que no quarto ao lado temos um amigo. Se precisarmos de alguma coisa, sabemos que basta
ir bater à porta. É muito bom.
E como foi no apartamento, tiveste que o mobilar?
Eu tive a sorte de calhar com um americano, os pais dele levaram micro-ondas, frigorífico, televisão, xbox,. As camas já lá estavam,
portanto eu não tive que trazer praticamente nada, só fui comprar um cobertor, uma almofada e pronto. As refeições é tudo na cafetaria,
é quase buffet!
A Next Level está a preparar mais atletas para ir. O que é que tu lhes dirias?
O mais importante agora é não desistir. O processo pode parecer um bocado difícil com toda a papelada necessária, mas estão a um passo
de irem e vale mesmo a pena. Eu acredito que vai ser a melhor experiência que eles algum dia poderão ter.
E como são tratados lá os jogadores de futebol?
Aquilo é quase um ambiente profissional, pelo menos durante a época. E há muito apoio de toda a faculdade. Os atletas de outros
desportos vão ver os nossos jogos e vice-versa. A minha faculdade é quase 60% atletas, 40% não atletas. Há grande preocupação
por parte dos professores que sabem que nós temos de viajar e são flexíveis na entrega dos trabalhos.
E as festas? Como são?
Bem, aquilo é quase tudo como se vê nos filmes, até os polícias com os donughts. Em universidades grandes há muitas festas e
exactamente como nós imaginamos. Na minha faculdade não, porque é muito cristã, que baniram o álcool e o tabaco no campus…
… E obrigam-te a uma prática religiosa?
Nós temos de ir dez vezes à igreja durante o ano inteiro, o que não é nada de especial. É uma hora, às vezes até é algo engraçado,
com pastores ou padres um pouco malucos, aquelas igrejas em que cantam muito alto e dançam mas é uma experiência muito gira. Eu até
acabei de ir mais do que as dez vezes, pois àquela hora não havia aulas, nem treinos e ia para viver a experiência.
A nível do trabalho que vocês têm de ter, tanto académico como desportivo, que diferenças vês relativamente a Portugal?
Em termos académicos, sinto que é muito mais fácil que o ensino de Portugal, é muito baseado nos trabalhos de casa e na assistência às aulas,
é o suficiente para ter boas notas. Em termos desportivos é muito mais físico que técnico, nós cá temos uma relação com a bola muito maior.
Lá é muito ginásio, muita corrida, muito fitness.
Vê-se que estás feliz Henrique.
Muito. Até já estou a pensar em voltar e ainda agora cheguei.